Uma audiência pública realizada de modo remoto pela Assembleia Legislativa do Paraná nesta terça-feira (04) discutiu a situação vivida por fumicultores de todo o Estado. O setor vive uma crise causada por inúmeros fatores, como os baixos preços do fumo, o mercado ilegal do tabaco e uma produção excessiva do produto. Reunindo produtores, indústrias e representantes do setor agrícola, o encontro tratou de formas efetivas para auxiliar a cadeia produtiva. A reunião foi proposta pelo deputado Emerson Bacil (PSL).
Estima-se que cerca de 40 mil famílias vivam da produção do fumo no Paraná. A cadeia funciona em um sistema denominado integrado, quando as empresas responsáveis por processar o fumo encomendam uma quantidade de matéria-prima. Aí parece surgir o imbróglio. De um lado, produtores alegam que as empresas não adquiriram a produção. Do outro, as empresas dizem que cumpriram os acordos e que há uma superprodução.
“Temos um excesso de fumo ou a falta de aquisição. Enquanto isso, o fumo está estocado em paióis, sem venda. O produto não está sendo absorvido pelo mercado. A situação vem trazendo prejuízos ao meio fumicultor”, avaliou Bacil. Para o deputado, falta suporte para a classe.
O setor vai na contramão do restante do agronegócio paranaense, mesmo em tempos da crise causada pelo novo coronavírus. É o que explicou o secretário de Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara, que participou da reunião. Segundo ele, o agro totalizou um crescimento real em 2020 de 3%, enquanto o mercado de tabaco decresceu. Ortigara afirmou que o Executivo está atento à situação. “Estamos trabalhando para encontrar uma saída para este grupo de agricultores. O Governo está à disposição, buscando implementar ações para socorrer o setor”.
O presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Werner, enumerou os principais problemas vividos pelo meio. De acordo com ele, há uma dificuldade da venda da produção, já que, alega, as empresas não compraram a safra estimada. Ele também reclama dos baixos preços. Entre as soluções sugeridas por Werner está a criação de um órgão neutro que realize a classificação do tabaco, com um aporte financeiro do Governo Federal.
O presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares do Estado do Paraná (Fetaep), Marcos Brambilla, ressaltou o comprometimento do órgão à classe. Para ele, é necessário estimular atividades alternativas ao fumo como forma de criar um novo meio de fonte de renda. “A diversificação da atividade para compor a renda do agricultor é a melhor forma de manter a produção no estado”, defendeu.
Para o produtor e especialista em fumo Giovane Werber, há a necessidade de um diálogo maior entre as partes. “Hoje a indústria está de um lado e o fumicultor de outro. Não existe indústria sem produtor e produtor sem indústria”, disse. A visão é semelhante à do deputado estadual do Rio Grande do Sul, Elton Weber. Além desta dependência, ele identificou outro problema: o mercado ilegal do contrabando. Para ele, é função do Estado combater este problema.
Empresas – Representantes das indústrias do setor também participaram do encontro. Tanto o vice-presidente da Japan Tobacco International (JTI), Paulo Saath, quanto o gestor da Souza Cruz, Carlos Palma, garantiram que ambas as empresas têm o compromisso de adquirir os volumes acordados com os produtores. Eles alegam que os agricultores acabam por produzir além do que é solicitado pelas indústrias, o que explica a safra excessiva.